quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Consumo de medicamentos e internet: análise crítica de uma comunidade virtual


Consumo de medicamentos e internet: análise crítica de uma comunidade virtual



O uso indiscriminado e indevido de medicamentos constitui um grave problema de saúde pública, principalmente nos casos de automedicação, ou seja, na ausência de prescrição médica. Da mesma forma, a reutilização de receitas antigas pode ser caracterizada como automedicação, uma vez que o medicamento em questão pode não ser necessariamente de uso continuado.
A automedicação, assim como a prescrição errônea, pode resultar em efeitos indesejáveis, desde o mascaramento de doenças em evolução até o surgimento de enfermidades iatrogênicas.
A informação encontrada em sites e grupos de discussão, principalmente aqueles destinados a discutir doenças, é a principal responsável pela promoção da automedicação na internet. Muitas vezes, informações como indicação e posologia estão disponíveis, permitindo que um indivíduo inicie um tratamento sem uma prévia consulta ao médico e o correto diagnóstico.
As informações sobre os riscos dos medicamentos e efeitos colaterais estão sonegadas ou subestimadas nos sites, recaindo sobre o consumidor o julgamento se a informação é de qualidade e confiável, o que para um indivíduo sem conhecimento técnico torna-se difícil.
A internet amplia vertiginosamente o acesso do indivíduo à comunicação, ao entretenimento e à informação. Através da rede, comunidades virtuais surgem para troca de experiências numa escala sem precedentes.
O perfil encontrado nesse estudo foi de jovens entre 18 e 20 anos, predominantemente do sexo masculino e com escolaridade média. Verificou-se a partir da análise dos comentários, uma tendência ao consumo de 16 a 20 drágeas do medicamento e outras drogas para atingir os efeitos desejados, acompanhadas ou não de álcool, com o predomínio dos seguintes efeitos: alucinações visuais, insônia e distúrbios gastrointestinais. Pôde-se identificar nos diálogos, duas correntes: uma, que incentiva seu uso não-terapêutico e outra, que o desaconselha.
Uma comunidade virtual organizada em torno da discussão de uso não-terapêutico de um medicamento pode contribuir para a sua promoção, principalmente em jovens. Tal fato reforça a necessidade de maiores campanhas de alerta sobre a automedicação e o cumprimento das leis sanitárias pelas farmácias e drogarias e o fortalecimento das ações de vigilância e fiscalização.
A naturalidade expressa pelos indivíduos ao relatarem um uso não-terapêutico de um medicamento sugere a necessidade de intensificação das campanhas de alerta sobre os perigos da automedicação e de maior atenção sobre a promoção do uso indevido de medicamentos, principalmente na internet.

















Revista da Associação Médica Brasileira
Rev. Assoc. Med. Bras. v.54 n.3 São
Paulo maio/jun. 2008
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302008000300015&lng=pt&nrm=iso
João Fábio R. de Souza*; Carmem L. C. Marinho; Maria Cristina R. Guilam

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